Comparando com qualquer outro mamífero, a maneira como o ser
humano se movimenta é único. Mas a postura ereta não é a mais eficiente para
mover-se: o menor empurre é o suficiente para fazer-nos perder o nosso
equilíbrio. De fato, andar não é nada mais do que uma constante tentativa de
evitar uma queda. Portanto, testes metabólicos já provaram que nós queimamos
mais energia dormindo do que passeando devagar. Isso é possível porque as
forças estão perfeitamente balanceadas. Esse balanceamento é produzido pelas
estruturas anatômicas envolvidas em mantendo uma postura ereta. A coluna
vertebral tem um papel essencial e muito importante, mas o quadril, o joelho e
o pé são as partes do corpo que têm que suportar a maior parte dos estressores
mecânicos. Essas estruturas anatômicas passaram
pelas mudanças evolucionarias mais marcantes do todo o corpo, desde que nós
éramos macacos andando de quatro e até agora, sendo yoguis e querendo ficar
mais humanos - eretos e majestosos - a cada ano. Crença minha que, quanto mais
alinhados e encaixados seremos menos energia gastaremos fazendo coisas comuns,
como andar e sentar, e sobrará mais para outras atividades como meditar e
salvar o mundo!
Essas semanas eu estou explorando mais em detalhe os encaixes
dos quadris em posturas em pé (utthista
sthiti), posturas sentadas (upavista
sthiti) e posturas com extensão da coluna para trás (purva pratana sthiti). Especificamente eu estou procurando a tal
da entrada da cabeça do fêmur. Para criar estabilidade nos quadris e poder
alongar a coluna, para que ela possa virar na direção que desejamos, as cabeças
dos fêmures primeiro têm que entrar e o quadril se compactar. Mas o que
significa mesmo entrar com a cabeça do fêmur e como fazer? Vamos ver:
O fêmur é o osso mais comprido do nosso corpo, na extremidade baixa ele faz parte do joelho e na extremidade alta, ele tem um
pescoço, o colo, que
sai para o lado e termina em uma cabeça careca que encaixa
na pelve dentro de uma fossa, o acetábulo, em um ângulo de fora para dentro e
no
diagonal de frente para trás. Essa articulação, aliás,
do fêmur com a pelve,
é a articulação coxo-femural,
comumente conhecido como o quadril.
O encaixe tão importante desse osso começa em aulas básicas,
com o professor insistindo em que você trague a nádega da perna direita para
frente, e o tronco e cabeça para trás em posturas como trikonasana e virabhadrasana II. Para que isso possa acontecer,
primeiro você teve que girar a coxa para fora, até criar uma linha reta
passando pelo meio do pé, centro do joelho e o meio da coxa, sem deixar que a
borda interna do pé fique leve no chão. Isso vai fortalecer os músculos que giram
o fêmur para fora, dentro dos quais o mais conhecido é o piriformis – músculo pequeno
que muitas vezes fica tenso demais e pode causar ciática.
- “Ah, beleza, você pensa, eu estou indo bem então, pois
ando já com os pés virados muito para fora!”
E na próxima aula, o professor, ainda querendo ajudar a
fortalecer seus quadris pelo encaixe do fêmur, pede para que você alinhe as
bordas externas dos seus pés quando em tadasana
e ainda que você gire a coxa para dentro, sem arrebitar o bumbum - parece
que os pés também giraram para dentro! Mas que postura estranha! Isso trabalha
os músculos que giram o fêmur medialmente, ou para dentro, sendo esses os glúteos
medius e minimus.
E nas aulas mais avançadas, em adho mukha svanasana, por exemplo, o professor pede que você gire a
coxa para dentro e para fora tudo ao mesmo tempo e assim compacte os quadris. Alguns
professores falam em levar o trochanter (maior) para frente e o cóccix para
baixo e para dentro. O trochanter maior é a parte do osso de onde sai o colo do
fêmur, ou seja, a parte do osso que fica para fora quando a cabeça entra no
acetábulo. O cóccix é o final da coluna, o começo do rabo que quando éramos macacos
ainda tínhamos.
O professor americano de iyengar yoga Manuso Manos pede para
olhar suas pernas quando sentado em dandasana. Se
olhar a lateral externa das pernas,
vemos que a perna vem seguindo uma linha
mais ou menos reta, até chegar perto da bacia, onde a linha desvia para fora,
em forma de uma abóbora. Diz Manos, que precisamos tornar essa abóbora em um
pepino longo e fino!
Para treinar como fazer isso tudo ao mesmo tempo, e
finalmente sentir firmeza na articulação coxo-femural, a firmeza que vai
permitir como que a coluna se estenda para cima com a mesma segurança que uma
planta atravessa o solo para crescer na direção do sol, colocamos ontem um
tijolinho entre o alto das coxas, e outro entre os calcanhares em adho mukha svanasana e uttanasana. Seguramos com força o tijolo
entre as coxas, e pelos músculos internos das coxas, levamos o tijolo para traz
(rotação interna) e então fizemos força no tijolo de baixo com os calcanhares e
levamos os ligamentos externos dos joelhos para trás (rotação externa). Depois
fizemos a mesma coisa em setu bandha
com os joelhos dobrados e o sacro apoiado em um terceiro tijolo. Giramos as
coxas para dentro (bordas externas dos pés alinhadíssimas!), segurando e
levando o tijolo na direção do chão e então apertando o tijolo entre os
calcanhares também. Em setu bandha nós ainda levamos o peso na direção das
bolas dos pés e vimos como a bacia ficou leve de tão compactos os quadris - o
sacro até saiu do tijolo. Sem incômodo na lombar! Desvendamos assim um dos
segredos das extensões da coluna seguras e sem dor. Será que conseguiremos usar
esses mesmos alinhamentos para fazer um supta
virasana confortavelmente e sem dor na lombar? Vamos tentar amanhã!
Grata pela origem da foto: http://www.yogalac.ch/asanas%20L2.html |
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